Numa manhã qualquer, levanto-me, coloco minha malha de ginástica, faço um rabo de cavalo e vou escovar os dentes. Penso, essa pasta está me dando enjôo todos os dias, preciso comprar outra marca.
As mãos de fada de Letícia e Ana Cris se revezavam para massagear minha lombar. Dava um alívio incrível.
Tava difícil, doía bastante. Pedi para o Marcos ficar mais perto e eu apertava o braço dele e o abraçava forte a cada contração. Isso me ajudava.
Sentia a cabeça dele descer a cada contração, o osso abrir, era uma sensação maluca de dor e prazer. Pedro me dizia, calma mamãe, já vai passar. Eu morria de amor.
Outra contração, faço outra força que vem do fundo da minha alma, grito um grito que me dá força, que joga o medo para fora de mim, me sinto forte, poderosa, o corpinho sai, eu o pego e o abraço. Ele tosse e se acalma, não chora. Eu, choro. Um choro de felicidade, de emoção, de amor. Aquele corpinho quente, macio me trouxe paz. Sinto alívio, por ter conseguido parir, já nao sentia mais dor.
Minha família estava ali junto comigo, o tempo podia parar.
Sai da banheira, ainda abraçada com João Victor. Deitei no sofá. Ele mamou. Nasceu sabendo mamar.
Saio apressada para ver se as crianças já estão trocadas, se as mochilas e lancheiras estão prontas e vou tomar café. O enjôo continua...penso que preciso comer melhor, com mais calma, sem stress. E saímos juntos para o colégio, vamos conversando no carro, um dia como todos os outros.
Saio do colégio sorrindo depois dos abraços deliciosos que ganho das crianças e vou direto para o Cross Fit.
Acho a aula desse dia mais puxada que o normal e me sinto mal, fica tudo escuro e penso que vou desmaiar, peço ajuda, bebo água, apago por 2 segundos, aos poucos tudo volta ao normal, vou embora.
No caminho penso que estranho, estou muito cansada, deve ser isso, dormindo pouco, me alimentando mal, continuo lutando contra meus pensamentos que sabem que já senti isso antes, reluto, por fim passo na farmácia e compro um teste de gravidez. Chego em casa vou direto para o banheiro e faço xixi no bastão, coloco dentro do tubinho, 10 segundos depois aparecem as duas linhas lá, claramente. Estou grávida! Começo a chorar e ligo pro Marcos chorando. Ele fica com a voz trêmula e tenho a sensação que ele também está chorando. Passo o resto do dia chorando. Ligo para a minha mãe e choro mais um pouco, ela também se desespera, depois me fala pra me acalmar, pior seria descobrir uma doença, gravidez é vida, é alegria. Tento me prender a isso...
No dia seguinte consigo um encaixe com o obstetra e o ultrasom confirma, grávida de 9 semanas! O coraçãozinho já batia forte dentro de mim.
Passei mais um mês chorando a cada vez que ia contar para alguém, imaginando como seria começar de novo, ser mãe de novo. Sentia medo.
Desespero. Culpa.
A gravidez correu bem. Meus outros partos tinham sido normais mas sempre sonhei com um parto domiciliar, agora era a minha chance de vivenciar essa experiência.
A data provável do parto era 23/1/15, data perfeita para ter o bebê no Brasil, as crianças estariam de férias.
Conversei com a parteira em quem confiava, Ana Cristina Duarte, e já deixei tudo meio que combinado. Fizemos uma consulta em julho, depois pesquisei e li bastante sobre o parto domiciliar e já tinha certeza que seria assim.
Já era fim de janeiro e nada de trabalho de parto, em todas as minhas gravidezes sempre me vem esse medo de não entrar em trabalho de parto e ter que ser induzida. Dessa vez tinha uma pressão extra porque o Marcos precisava voltar para Lima para trabalhar, apesar disso, já tínhamos decidido que se tudo estivesse bem com o bebê, eu não me sujeitaria a uma indução no hospital. Ia tentar métodos de indução natural e esperar...
Dia 28/01, 40 semanas + 5 dias, tivemos uma consulta com a Ana Cris e ela descolou as membranas.
Cheguei em casa, jantei, coloquei as crianças para dormir e fui dormir também. As 23:00 comecei a sentir cólica, em seguida contrações. As 2:00 não conseguia mais ficar deitada, levantava toda hora para fazer xixi, qualquer posição era desconfortável. Levantei e fui para a sala, pedi pro Marcos ligar o ventilador e ali fiquei, andando de um lado para o outro.
Pedi para o Marcos anotar de quanto em quanto tempo vinham as contrações e a duração.
As 3:00 estavam de 20 em 20 minutos durando 40 segundos. Liguei para a Ana Cris que me disse relaxa e vai dormir. Mas eu não conseguia.
Entrei no chuveiro e fiquei uns 5 minutos em embaixo da água quentinha, isso aliviava.
As 4:30 as contrações estavam de 8 em 8 minutos, durando 1 minuto cada, estava muito desconfortável, mas o mais louco é você se sentir feliz porque a dor está piorando...
Levantei para ir ao banheiro e senti a bolsa estourar, o Marcos ligou para a Ana Cris que disse que estava a caminho. Era verdade! Eu estava em trabalho de parto! Estava perto do meu bebê nascer.
Liguei para minha mãe que chegou em 10 minutos.
Pedi para o Marcos inflar a banheira e colocar água. Entrei na banheira e ali relaxei.
Ana Cris e Letícia chegaram. As contrações estavam muito frequentes e muito doloridas.
As mãos de fada de Letícia e Ana Cris se revezavam para massagear minha lombar. Dava um alívio incrível.
Eu perguntava se faltava muito, elas diziam que não.
6:30 acordaram Marie e Clarinha. Ver todos ao meu redor, em volta da banheira, me emocionou.
Tava difícil, doía bastante. Pedi para o Marcos ficar mais perto e eu apertava o braço dele e o abraçava forte a cada contração. Isso me ajudava.
Sentia a cabeça dele descer a cada contração, o osso abrir, era uma sensação maluca de dor e prazer. Pedro me dizia, calma mamãe, já vai passar. Eu morria de amor.
Sinto queimar e comemoro, eu já tinha sentido isso antes, sabia que a cabeça estava coroando, muita emoção.
Me sinto em sintonia total com meu corpo, nem eu mesma imaginava que pudesse me conhecer tão bem...sinto vontade de fazer força, e faço, muita, grito, grito alto, respiro, sinto a cabeça sair, ponho a mão, meu coração enche de alegria. Maria Clara vai para a cozinha porque não gosta de me ver com dor, fica preocupada. Pedro faz companhia para ela. Marie fica, grita, estou vendo a cabecinha!
Outra contração, faço outra força que vem do fundo da minha alma, grito um grito que me dá força, que joga o medo para fora de mim, me sinto forte, poderosa, o corpinho sai, eu o pego e o abraço. Ele tosse e se acalma, não chora. Eu, choro. Um choro de felicidade, de emoção, de amor. Aquele corpinho quente, macio me trouxe paz. Sinto alívio, por ter conseguido parir, já nao sentia mais dor.
Minha família estava ali junto comigo, o tempo podia parar.
Sai da banheira, ainda abraçada com João Victor. Deitei no sofá. Ele mamou. Nasceu sabendo mamar.
Ali ficamos por mais de uma hora. Expeli a placenta e aí Marcos cortou o cordão umbilical.
As crianças estavam eufóricas com a chegada do irmão. Queriam tocar, beijar, cantar para ele.
João Victor nasceu com 40 semanas + 6 dias, com 4,320kg e 54 cm, um super bebê, nao tive lacerações.
Todos foram tomar café na cozinha, eu não tinha fome, só sede. Mas estava feliz de escutar as crianças conversando, escolhendo o que queriam comer. Brindamos e tomamos champagne.
As 11 da manhã me levantei, tomei banho e fui almoçar na casa da minha mãe (no mesmo condomínio, dá para ir pela garagem). Eu estava em casa, podia estar com todos os meus filhos juntos, dormir na minha cama. Inexplicável parir em casa. Um verdadeiro sonho!
Senti todo o amor que pulsava no meu coração, como um bebê de uma gravidez não planejada podia me trazer tanta felicidade? A culpa quis aparecer, mas o amor mais profundo não deixou espaço. Como pude viver sem ele até agora? Não sei. Só quero poder sempre lembrar do seu cheirinho e do sentimento que o seu nascimento despertou em mim, para sempre!
Muita gratidão a Deus, ao universo, à Mãe Terra, ao meu marido, minha mãe, meus filhos e minhas queridas parteiras pelo apoio.
Gratidão por mim mesma por ter seguido meu coração e meu instinto, por ter superado meus medos, medo de nao entrar em trabalho de parto, medo de ter que ser transferida para o hospital, medo da dor.
Esse parto tocou minha alma e trouxe paz para o meu coração. Uma experiência mágica e transformadora. Ser mulher é sagrado...