Thursday 12 February 2015

Relato de parto natural gemelar pélvico - Maria Clara e João Pedro - 08 de maio de 2010

Minha filha mais velha tinha 1 ano exato quando engravidei. Estávamos voltando de Londres para o Brasil, voltando a trabalhar no escritório de São Paulo, um turbilhão de emoções. Chorava cada vez que contava para alguém, me sentia mal por ter engravidado recém voltando de intercâmbio, mas nunca senti medo nem desespero por estar esperando gêmeos.
Desde criança sempre quis ter filhos gêmeos. Minha mãe me dava bananas gêmeas, ovo com duas gemas e tudo mais que a crendice popular diz fazer a pessoa ter gêmeos.

A gravidez foi super tranquila, me sentia bem, trabalhava e cuidava da Maria Luisa normalmente.

Cheguei de Londres com a idéia que o plano de saúde deveria ter médicos bons já que era pago, lá usava o público e funcionava. Fui em 4 médicos que me diziam que fariam parto normal se não tivesse nenhum rico para mim e para o bebê. Dizer isso para uma gestante saudável que a gravidez vai muito bem obrigada, é o mesmo que dizer que vai fazer cesárea. Certeza que no final apareceria alguma desculpa convincente de risco mortal para o bebê e só uma mãe louca arriscaria. Eu precisava fugir de obstetras assim porque não existia a possibilidade de eu fazer uma cesárea sem necessidade real.

Até que escrevi para uma parteira querida, Ana Cris Duarte, que confirmou o que eu desconfiava, precisava esquecer os médicos do plano de saúde e achar um médico humanizado. Aí conheci o Dr Jorge Khun e tive certeza que era ele o médico certo para me acompanhar. A cada consulta ele me dava aulas, me mostrava vídeos, me dava material de leitura, conversávamos muito sobre minhas escolhas, os riscos, os erros no parto anterior e o que eu queria para esse parto. Estava apaixonada por esse novo mundo que tinha descoberto. Não havia mais outra possibilidade para o nascimento dos meus filhos. 

Com 7 meses de gravidez, os bebês viraram e ficaram os dois pélvicos. Dr Jorge me explicou que não existia literatura médica que defendesse parto natural pélvico, principalmente gemelar, mas que era uma possibilidade, que muitos bebês nasciam pélvicos de forma natural e segura. Discutimos os riscos e decidimos que o parto teria que ser hospitalar.

Não contei para ninguém porque não estava preparada para ouvir palpites nem casos macabros de partos mal sucedidos.

Era uma quinta-feira, estava com 37 semanas e 6 dias e fui na minha consulta de rotina. Não tinha sinal nenhum de trabalho de parto próximo. Conversamos sobre as opções no caso de chegar a 41 semanas e não entrar em trabalho de parto, que no caso não eram muitas. Não se faz indução de parto gemelar, ou seja, teria que ser cesárea caso o trabalho de parto não engrenasse nas próximas semanas.

Sai do consultório chorando e chorei toda a tarde (sim, sou dramática!) e tinha um certo medo de repetir o que aconteceu na primeira gravidez, tinha medo de não conseguir entrar em trabalho de parto sozinha, achava que pudesse ser um problema meu.

No outro dia de manhã, sexta-feira, fui numa consulta com minha médica homeopata que me acompanhou durante a gravidez também. A primeira coisa que ela me disse foi: Calma! Não tem nenhum problema com seu corpo, que foi criado para parir, como o corpo de todas as outras mulheres. Você vai conseguir. A natureza é sábia e as coisas vão acontecer na hora certa. Ela me passou um remédio homeopático e me disse para tomar de hora em hora, inclusive durante o trabalho de parto.

No sábado as 5h da manhã levantei para fazer xixi e quando fiquei em pé senti a bolsa estourar, molhou bastante o chão. Acordei meu marido, nos abraçamos e comemoramos. Sabia que o parto estava próximo e não, não seria cesárea!

Tomei um banho bem demorado, sequei o cabelo e terminei de arrumar a mala da maternidade.
As 7:00 comecei a ter contrações. Aí liguei para o médico, para minha mãe e para minha doula.
Como as contrações estavam bem espaçadas, a cada 20 minutos, todos me disseram para me acalmar que estava longe.
A cabeça de uma mulher grávida, durante o trabalho de parto, é uma coisa muito louca. Liguei para minha mãe e cismei que queria que ela fosse numa loja e comprasse um tapete branco para o quarto Dos bebês.
Enquanto isso andava de um lado para o outro, usava a bola, entrava no chuveiro, ia seguindo todas as vontades do meu corpo, e Maria Luisa, na época com 1 ano e 9 meses, não saiu do meu lado um minuto, ia imitando meus movimentos e me falava para ter calma. Ela sempre teve uma sensibilidade incrível...

As 9:00 minha mãe chegou na minha casa, as contrações já estavam a cada 3 minutos e com duração de 1 minuto, A evolução foi muito rápida, não me dei conta. Ligamos para o médico que já estava no São Luiz com a equipe. 


Entramos no carro, eu no banco de trás, minha mãe na frente e o Marcos dirigindo. Fui ajoelhada no chão debruçada, e aí durante o percurso senti queimar e em seguida aquela vontade de fazer força. Em seguida senti o pé sair para fora, o João Pedro estava nascendo em plena Avenida Brasil!
Minha mãe falava com a equipe por telefone e o Marcos dirigia como um louco. Depois ele contou o tanto que as pernas dele tremiam enquanto dirigia.

Chegamos no São Luiz o médico estava na porta me esperando, ele que me levou numa cadeira de rodas para a delivery room. 

A banheira estava cheia, a Cris Balzano, doula querida já tinha enchido.

Tirei a roupa e entrei na banheira. Uma contração e nasceu João Pedro lindamente, como um peixinho.

Sai da banheira e fui para a cama, fizemos um ultrasom e tudo estava bem. Fiquei na cama sendo monitorada e 16 minutos depois nasceu Maria Clara, de cócoras, como uma indiazinha.


Minha mãe e meu marido acompanharam tudo, logo depois chegou meu pai com a minha filha que estava ansiosa para conhecer os irmãozinhos.


Amamentei os meus bebês nos seus primeiros minutos de vida, não tomei nenhum pontinho, nem anestesia. Levantei-me, fui ao banheiro e tomei banho sozinha 3 horas após o parto. Eles foram para o berçário só fazer o registro. Depois do banho fui caminhando até o berçário do andar para perguntar porque eles ainda não estavam no quarto. Eu já tinha virado atração no hospital por ter tido parto normal de gêmeos. Imagina as pessoas me vendo fora do quarto na porta do berçário...me senti uma aberração.


Eles ficaram o tempo todo junto comigo no quarto e na manhã seguinte, 24 horas após o parto, tive alta e o almoço de dia das mães foi em casa!


Não podia querer mais, foi o parto que eu sonhei, que me empoderou e lavou minha alma.

Me senti plena e apaixonada por aquelas duas coisinhas...

 







3 comments:

  1. Adorei seu relato. Em breve minhas bebês vso chegar e ate o momento estão pélvicos.

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  2. Adorei seu relato. Em breve minhas bebês vso chegar e ate o momento estão pélvicos.

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