Wednesday 11 February 2015

Relato do parto normal hospitalar da Maria Luisa em Londres – 02 de julho de 2008


Já se passavam 12 dias da data estimada para completar 40 semanas (20/06/2008) e nada da Maria Luisa nascer.
Fazia longas caminhadas com a vovó e o vovô, comia hot currys, fazia reflexologia, tomava chá de folha de raspberry, comia abacaxi e tudo mais que falavam que pudesse iniciar o trabalho de parto e nada.
Cada vez que passeávamos na beira do rio Tâmisa perto da nossa casa (no Thames Path), eu não parava de olhar para cada bebê que passava e ficava imaginando quando poderia passear com você também ali.

No dia 30 de junho de 2008, com 41 semanas e 5 dias, fomos para o hospital para uma consulta com a midwife e ao fazer o exame de toque ela falou que ainda não tinha dilatação e que o colo estava duro e longo, então fizemos um procedimento chamado membrane sweep (descolamento de membranas) e no outro dia de manhã cedo ela me pediu para ir para o hospital para iniciar a indução do parto, já que o processo não tinha se iniciado automaticamente até então.

Fiquei um pouco ansiosa e com muito medo na noite anterior, as lágrimas saiam sem parar, era como se tivessem me tirando algo precioso, o direito da minha filha de nascer sozinha, na hora que ela quisesse, da forma natural que planejei, mas não tive força nem coragem para ir contra o que o médico e a midwife estavam dizendo, não tinha as informações que tenho hoje, nem sabia ainda que tinha poder para fazer isso. Para amenizar a ansiedade e medo que eu estava sentindo fomos comer uma pizza e tomar um vinho no Napule em Fulham para acalmar.

No outro dia cedinho, ao chegar no hospital, a midwife fez um exame de toque e aplicou um gel para ajudar a amolecer o colo e ai iniciar as contrações. Eu já tinha perdido o tampão antes de chegar no hospital, talvez um sinal de que não precisaria ser induzida, mas também não sabia disso na época.

Enquanto esse gel agia fomos passear na Fulham Road e almoçar no Carluccio. Acabando o almoço fomos passear num lugar bonito, cheio de arvores, que eu achava que era um parque mas que na verdade era um cemitério antigo. Sentamos lá e demos muita risada pelo fato de estarmos no cemitério aguardando o trabalho de parto começar…só na Inglaterra mesmo que cemitério é lugar de passear, ler, fazer picnic, rsrsrs

Comemos balas haribo e tiramos muitas fotos.

Voltamos para o hospital, aplicamos mais uma ampola de gel e mais ou menos às 16h comecei a ter contrações. Fiquei muito feliz em sentir as contrações, mesmo elas sendo muito doloridas. Era uma felicidade inexplicável, de saber que meu bebê estava mais perto de chegar.

A vovó foi em casa buscar meu travesseiro e um sanduíche de peanut butter com geléia de framboesa e fomos comer no Starbucks, na frente do hospital para relaxar…

As 19:30 subi para o centro obstétrico e colocaram de novo o monitor para ver os batimentos cardíacos e as contrações.

Logo em seguida fui no banheiro e a bolsa estourou. Outro momento de felicidade!

Tudo estava caminhando aparentemente bem…as contrações foram aumentando a intensidade e a freqüência e eu ia ficando cada vez mais feliz! E com cada vez mais dor.

A midwife trouxe o gás (óxido nitroso) e comecei a me sentir melhor. A midwife pediu para o papai e a vovó descerem e esperarem minha transferência para o quarto (sala de parto), eu ia ter que , ficar sozinha lá. No meio de uma contração, tive força para dizer “No way, they Will stay right here, with me!”.

As contrações agora estavam muito doloridas e o calor era insuportável. A vovó e o papai se revezavam para me abanar com um pedaço de papelão, dar água, fazer massagem, etc. Parece surreal mas o ar condicionado não estava funcionando e acho que aquela foi a noite mais quente de todos os verões londrinos (pelo menos para mim!).

As 23h a dilatação continuava 3 cm. Abaixamos a luz, a vovó esquentou bolsa de água quente e o papai me fazia massagens. Comecei a mudar de posição, usei a birth ball e ate então tudo estava indo muito bem. Usava o gás a cada contração e fiquei meio viciada no gás, dava uma tontura gostosa, tive vontade de comprar um cilindro para ter em casa hahaha.
Até que trocou o turno de midwifes, entrou uma africana que acendeu a luz e me mandou deitar na cama. Fui do céu ao inferno. As dores voltaram a ficar insuportáveis, fiquei nervosa, parece que o caminho voltou a ficar longo e difícil. Depois que tudo passou, não sei porque me submeti àquilo, porque não me rebelei, pedi para trocar de midwife, fiz qualquer coisa, mas me sujeitei, deixei ela dar as ordens e fui só seguindo....

Ás 4h da manha a dilatação continuava igual, 3 cm, resolveram dar um “sorinho” de ocitocina (fucking ocitocina). Nesse momento já não agüentava mais sentir dor e pedi a peridural.
O Marcos e a minha mãe ficaram muito nervosos nessa hora, mas deu tudo certo. A dor melhorou e enfim relaxei.

As contrações aumentaram muito em quantidade e intensidade. As 7h da manha mais ou menos estava com 5 cm de dilatação e mais um “sorinho” foi aplicado.
Trocou o turno e veio uma equipe nova de midwifes sendo que o principal era o Giuseppe, um midhusband, como diz o Marcos.
A assistente dele era a Maria, uma colombiana. Nunca vou me esquecer deles.
A Maria me trouxe um ventilador. Ufa!
Eles foram muito atenciosos e estavam preocupados com meu bem-estar. Já estava no hospital há tantas horas e era a primeira vez que me sentia amada. Uma medica entrou e fez outro exame de toque e constatou que eu estava fully dilated!
Nessa hora todos na sala comemoraram e eu comecei a chorar. Ainda hoje quando lembro desse momento tenho vontade de chorar. Era uma mistura de medo, emoção e felicidade.
 A médica queria usar o vácuo porque os batimentos cardíacos do bebê estavam mais fracos, mas a equipe de midwifes interferiu, disse pra ela que no meu plano de parto falava que eu não queria usar vácuo ou forceps e pediu pra ela me deixar tentar. (finalmente alguém lembrou  eu tinha feito um plano de parto e nele tinha planejado um trabalho de parto totalmente diferente do que tinha sido até o momento). Tive vontade de abraçá-la.
A médica concordou em me deixar tentar por 30. Nessa hora eu tive certeza que ia conseguir.
A partir dai se passaram os 15 minutos mais emocionantes da minha vida.

Na primeira contração começaram os push push push e quando eu pensei que não tinha forcas pra mais nada, veio uma forca do além e eu me sentia como que se estivesse revigorada, apenas começando o processo, é como se eu estivesse completamente descansada. Eu fazia uma força tremenda e a cada push eu imaginava que muito logo eu estaria com meu bebê, veria a sua carinha…
Outra contração e push push push, a cada contração o time de midwifes e a vovó e o papai comemoravam e era um grande incentivo pra mim. Falavam well done, ta indo muito bem, falta pouco! E isso ia me dando cada vez mais força.
Começou a aparecer a cabecinha, a vovó começou a falar, estou vendo a cabecinha, coloquei a mão e senti, comecei a chorar de novo…e no terceiro push, ela nasceu! Foi um misto de susto e emoção. Não acreditava que tinha conseguido! Me sentia anestesiada. Depois de tantas horas, tantas intervenções, depois de terem “feito” o parto por mim, depois de ter passado adiante o protagonismo do meu parto, mesmo assim eu tinha parido, que alívio!

Assim que nasceu, colocaram ela no meu abdomen e sozinha ela encontrou o peito. O cordão umbilical ainda pulsava. Maria Luisa nasceu linda, gordinha, com 3,860 kg e, 56,5 cm, apgar 9/10.

A placenta foi expelida e só aí o cordão foi cortado. Por causa da anestesia que foi em excesso, eu não sentia a intensidade da força na hora do expulsivo e tive muitas lacerações, em vários lugares diferentes. Tive uma pequena hemorragia e perdi quase 1L de sangue o que me ocasionou uma anemia por um bom tempo. Na primeira semana os pontos incomodaram muito. O lado obscuro de um parto hospitalar cheio de intervenções.

Por outro lado, ver meu bebê mamando no meu peito, me dava uma sensação de paz absoluta. Por fim as intervenções pararam e eu pude ficar só com ela. Umas 2h da tarde, depois de ficar horas no peito, só embrulhada numa toalha, a vovó a limpou levemente e colocou um macacão cor-de-rosa nela. Todo mundo no hospital estava impressionado com o tamanho dela. Aí a vovó e o papai me trouxeram um macarrão ao funghi do Carluccio. Esse foi meu almoço. Muitas vezes depois repeti esse prato e senti o gostinho daquele dia 2 de julho de 2008.

Passamos a primeira noite só as duas hospital, dormimos 6h seguidas. De manha a vovó e o papai chegaram, a pediatra passou e estava tudo perfeito. Fomos para casa todos juntos…
Foi muito bom chegar em casa. O papai te mostrou tudo, seu quarto, suas roupas, e o vovô tirou um monte de fotos.
Você trouxe tanta alegria para a casa que o clima de harmonia era delicioso.
É como se eu não soubesse mais viver sem você!
Olho para você e agradeço a Deus por ter me dado um bebê perfeito, saudável e além de tudo linda, linda, linda!

O parto não foi como eu planejei, mas agradeço por não ter terminado em cesárea. Esse parto me impulsionou a buscar informações e me preparar para os próximos, sim, eu tinha acabado de parir e estava com sede de um novo parto, diferente, sem intervenções, eu queria ser a protagonista do meu próximo parto.




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