Já se passavam 12 dias
da data estimada para completar 40 semanas (20/06/2008) e nada da Maria Luisa
nascer.
Fazia longas
caminhadas com a vovó e o vovô, comia hot currys, fazia reflexologia, tomava chá
de folha de raspberry, comia abacaxi e tudo mais que falavam que pudesse
iniciar o trabalho de parto e nada.
Cada vez que passeávamos
na beira do rio Tâmisa perto da nossa casa (no Thames Path), eu não parava de
olhar para cada bebê que passava e ficava imaginando quando poderia passear com
você também ali.
No dia 30 de junho de
2008, com 41 semanas e 5 dias, fomos para o hospital para uma consulta com a
midwife e ao fazer o exame de toque ela falou que ainda não tinha dilatação e
que o colo estava duro e longo, então fizemos um procedimento chamado membrane
sweep (descolamento de membranas) e no outro dia de manhã cedo ela me pediu
para ir para o hospital para iniciar a indução do parto, já que o processo não tinha
se iniciado automaticamente até então.
Fiquei um pouco
ansiosa e com muito medo na noite anterior, as lágrimas saiam sem parar, era
como se tivessem me tirando algo precioso, o direito da minha filha de nascer
sozinha, na hora que ela quisesse, da forma natural que planejei, mas não tive
força nem coragem para ir contra o que o médico e a midwife estavam dizendo, não
tinha as informações que tenho hoje, nem sabia ainda que tinha poder para fazer
isso. Para amenizar a ansiedade e medo que eu estava sentindo fomos comer uma
pizza e tomar um vinho no Napule em Fulham para acalmar.
No outro dia cedinho,
ao chegar no hospital, a midwife fez um exame de toque e aplicou um gel para
ajudar a amolecer o colo e ai iniciar as contrações. Eu já tinha perdido o
tampão antes de chegar no hospital, talvez um sinal de que não precisaria ser
induzida, mas também não sabia disso na época.
Enquanto esse gel agia
fomos passear na Fulham Road e almoçar no Carluccio. Acabando o almoço fomos
passear num lugar bonito, cheio de arvores, que eu achava que era um parque mas
que na verdade era um cemitério antigo. Sentamos lá e demos muita risada pelo
fato de estarmos no cemitério aguardando o trabalho de parto começar…só na
Inglaterra mesmo que cemitério é lugar de passear, ler, fazer picnic, rsrsrs
Comemos balas haribo e
tiramos muitas fotos.
Voltamos para o
hospital, aplicamos mais uma ampola de gel e mais ou menos às 16h comecei a ter
contrações. Fiquei muito feliz em sentir as contrações, mesmo elas sendo muito
doloridas. Era uma felicidade inexplicável, de saber que meu bebê estava mais
perto de chegar.
A vovó foi em casa
buscar meu travesseiro e um sanduíche de peanut butter com geléia de framboesa
e fomos comer no Starbucks, na frente do hospital para relaxar…
As 19:30 subi para o centro
obstétrico e colocaram de novo o monitor para ver os batimentos cardíacos e as contrações.
Logo em seguida fui no
banheiro e a bolsa estourou. Outro momento de felicidade!
Tudo estava caminhando
aparentemente bem…as contrações foram aumentando a intensidade e a freqüência e
eu ia ficando cada vez mais feliz! E com cada vez mais dor.
A midwife trouxe o gás
(óxido nitroso) e comecei a me sentir melhor. A midwife pediu para o papai e a
vovó descerem e esperarem minha transferência para o quarto (sala de parto), eu
ia ter que , ficar sozinha lá. No meio de uma contração, tive força para dizer
“No way, they Will stay right here, with me!”.
As contrações agora
estavam muito doloridas e o calor era insuportável. A vovó e o papai se
revezavam para me abanar com um pedaço de papelão, dar água, fazer massagem,
etc. Parece surreal mas o ar condicionado não estava funcionando e acho que
aquela foi a noite mais quente de todos os verões londrinos (pelo menos para
mim!).
As 23h a dilatação
continuava 3 cm. Abaixamos a luz, a vovó esquentou bolsa de água quente e o
papai me fazia massagens. Comecei a mudar de posição, usei a birth ball e ate então
tudo estava indo muito bem. Usava o gás a cada contração e fiquei meio viciada
no gás, dava uma tontura gostosa, tive vontade de comprar um cilindro para ter
em casa hahaha.
Até que trocou o turno
de midwifes, entrou uma africana que acendeu a luz e me mandou deitar na cama.
Fui do céu ao inferno. As dores voltaram a ficar insuportáveis, fiquei nervosa,
parece que o caminho voltou a ficar longo e difícil. Depois que tudo passou,
não sei porque me submeti àquilo, porque não me rebelei, pedi para trocar de
midwife, fiz qualquer coisa, mas me sujeitei, deixei ela dar as ordens e fui só
seguindo....
Ás 4h da manha a dilatação
continuava igual, 3 cm, resolveram dar um “sorinho” de ocitocina (fucking
ocitocina). Nesse momento já não agüentava mais sentir dor e pedi a peridural.
O Marcos e a minha mãe
ficaram muito nervosos nessa hora, mas deu tudo certo. A dor melhorou e enfim
relaxei.
As contrações
aumentaram muito em quantidade e intensidade. As 7h da manha mais ou menos estava
com 5 cm de dilatação e mais um “sorinho” foi aplicado.
Trocou o turno e veio
uma equipe nova de midwifes sendo que o principal era o Giuseppe, um midhusband,
como diz o Marcos.
A assistente dele era
a Maria, uma colombiana. Nunca vou me esquecer deles.
A Maria me trouxe um
ventilador. Ufa!
Eles foram muito
atenciosos e estavam preocupados com meu bem-estar. Já estava no hospital há
tantas horas e era a primeira vez que me sentia amada. Uma medica entrou e fez
outro exame de toque e constatou que eu estava fully dilated!
Nessa hora todos na
sala comemoraram e eu comecei a chorar. Ainda hoje quando lembro desse momento
tenho vontade de chorar. Era uma mistura de medo, emoção e felicidade.
A médica queria usar o vácuo porque os batimentos
cardíacos do bebê estavam mais fracos, mas a equipe de midwifes interferiu,
disse pra ela que no meu plano de parto falava que eu não queria usar vácuo ou
forceps e pediu pra ela me deixar tentar. (finalmente alguém lembrou eu tinha feito um plano de parto e nele tinha
planejado um trabalho de parto totalmente diferente do que tinha sido até o
momento). Tive vontade de abraçá-la.
A médica concordou em me
deixar tentar por 30. Nessa hora eu tive certeza que ia conseguir.
A partir dai se
passaram os 15 minutos mais emocionantes da minha vida.
Na primeira contração começaram
os push push push e quando eu pensei que não tinha forcas pra mais nada, veio
uma forca do além e eu me sentia como que se estivesse revigorada, apenas começando
o processo, é como se eu estivesse completamente descansada. Eu fazia uma força
tremenda e a cada push eu imaginava que muito logo eu estaria com meu bebê,
veria a sua carinha…
Outra contração e push
push push, a cada contração o time de midwifes e a vovó e o papai comemoravam e
era um grande incentivo pra mim. Falavam well done, ta indo muito bem, falta
pouco! E isso ia me dando cada vez mais força.
Começou a aparecer a
cabecinha, a vovó começou a falar, estou vendo a cabecinha, coloquei a mão e
senti, comecei a chorar de novo…e no terceiro push, ela nasceu! Foi um misto de
susto e emoção. Não acreditava que tinha conseguido! Me sentia anestesiada. Depois
de tantas horas, tantas intervenções, depois de terem “feito” o parto por mim,
depois de ter passado adiante o protagonismo do meu parto, mesmo assim eu tinha
parido, que alívio!
Assim que nasceu,
colocaram ela no meu abdomen e sozinha ela encontrou o peito. O cordão
umbilical ainda pulsava. Maria Luisa nasceu linda, gordinha, com 3,860 kg e,
56,5 cm, apgar 9/10.
A placenta foi
expelida e só aí o cordão foi cortado. Por causa da anestesia que foi em
excesso, eu não sentia a intensidade da força na hora do expulsivo e tive
muitas lacerações, em vários lugares diferentes. Tive uma pequena hemorragia e
perdi quase 1L de sangue o que me ocasionou uma anemia por um bom tempo. Na
primeira semana os pontos incomodaram muito. O lado obscuro de um parto
hospitalar cheio de intervenções.
Por outro lado, ver
meu bebê mamando no meu peito, me dava uma sensação de paz absoluta. Por fim as
intervenções pararam e eu pude ficar só com ela. Umas 2h da tarde, depois de
ficar horas no peito, só embrulhada numa toalha, a vovó a limpou levemente e
colocou um macacão cor-de-rosa nela. Todo mundo no hospital estava
impressionado com o tamanho dela. Aí a vovó e o papai me trouxeram um macarrão
ao funghi do Carluccio. Esse foi meu almoço. Muitas vezes depois repeti esse
prato e senti o gostinho daquele dia 2 de julho de 2008.
Passamos a primeira noite
só as duas hospital, dormimos 6h seguidas. De manha a vovó e o papai chegaram,
a pediatra passou e estava tudo perfeito. Fomos para casa todos juntos…
Foi muito bom chegar
em casa. O papai te mostrou tudo, seu quarto, suas roupas, e o vovô tirou um
monte de fotos.
Você trouxe tanta
alegria para a casa que o clima de harmonia era delicioso.
É como se eu não
soubesse mais viver sem você!
Olho para você e
agradeço a Deus por ter me dado um bebê perfeito, saudável e além de tudo
linda, linda, linda!
O parto não foi como
eu planejei, mas agradeço por não ter terminado em cesárea. Esse parto me impulsionou
a buscar informações e me preparar para os próximos, sim, eu tinha acabado de
parir e estava com sede de um novo parto, diferente, sem intervenções, eu
queria ser a protagonista do meu próximo parto.
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